RESUMO

Com o presente trabalho pretende-se percepcionar a importância do planeamento financeiro na vida societária, enquanto instrumento de gestão empresarial.

Muito para além da simples teorização sobre a definição do conceito de planeamento financeiro pretende-se, com o presente estudo enquadrar e pensar criticamente as modalidades e tipos de planeamento financeiro.

 

1. IMPORTÂNCIA DO PLANEAMENTO FINANCEIRO

 

O planeamento financeiro constitui uma actividade primordial na gestão e nas finanças da empresa, na medida em que trata de identificar as necessidades de financiamento previsionais e de estudar as formas de financiamento mais adequadas.

Para além de ser um instrumento essencial na gestão financeira e estratégica das empresas, tem também um papel primordial na banca comercial e de investimento, nas actividades relacionadas com a concessão de crédito, com as reestruturações financeiras, com os aumentos de capital e com a avaliação de empresas e negócios.

O planeamento financeiro é ainda parte integrante de qualquer plano de negócios. O business plan é fundamental nos processos de criação de empresas, assim como em todas as reestruturações empresariais, nomeadamente, MBO (management buy out), fusões, aquisições, cisões e outras reestruturações empresariais.

Na avaliação de empresas é fundamental a estimativa dos fluxos de caixa previsionais pelo que as avaliações de empresas exigem sempre o recurso a técnicas de planeamento financeiro.

 

2. O PLANO DE NEGÓCIOS E O PLANO FINANCEIRO

Sendo o plano financeiro parte integrante do plano de negócios da empresa vejamos como se interligam.

Os planos de negócios têm por base os objectivos estratégicos da empresa e da sua posição e competitividade. Além disso, com base no diagnóstico e na perspectiva de desenvolvimento da empresa estabelecem-se uma panóplia de políticas de gestão.

Muitas destas políticas são definidas por áreas funcionais como a área comercial e de marketing, produção e logística, pessoal, investimentos, financiamento, etc. Os objectivos e as políticas de gestão irão integrar o conjunto de pressupostos do plano financeiro, fundamentais para a elaboração das previsões financeiras e/ou orçamentos.

Produzem-se então os orçamentos e os documentos financeiros previsionais. Uma vez produzidas as demonstrações financeiras previsionais deve proceder-se à sua análise e verificação da conformidade com os objectivos inicialmente enunciados:

 

Figura 1 – O ciclo de planeamento financeiro da empresa

 

Isto significa que o planeamento financeiro segue um processo iterativo até que se alcancem os padrões considerados satisfatórios, tendo em consideração as restrições existentes.

 

3. TIPOS DE PLANEAMENTO FINANCEIRO

 

Tal como referido anteriormente, o planeamento financeiro visa determinar as necessidades de financiamento previsionais, bem como, estudar as formas mais adequadas de financiamento no futuro.

Pode alcançar-se este objectivo de três modos distintos, que abaixo serão enunciados:

                        A) Método Expedito

                        B) Método Directo

                        C) Método de Consolidação Orçamental

 

3. A) MÉTODO EXPEDITO

Neste método privilegia-se a rapidez ao rigor. O centro das atenções é alcançar de forma rápida a estimativa das necessidades de financiamento previsional. Assim, as demonstrações financeiras são agregadas pelos seus elementos mais ou menos homogéneos e através da expectativa de evolução do volume de negócios e de mais 3 a 5 rácios, calculam-se as necessidades financeiras previsionais. Existem múltiplas formas de, na prática, proceder a estas simplificações. Na vasta literatura de finanças de empresa existem duas formas padronizadas muito conhecidas e com maior relevância. Um dos métodos mais conhecidos na dita literatura de finanças empresarial é o “método da percentagem das vendas” (Ross, Westerfield e Jaffe, 2000).

 

Este método pressupõe que todas as rubricas do activo e passivo variam no futuro na mesma proporção da variação do volume de negócios e que os capitais próprios variam pelo resultado retido. Se destas variações o activo for superior ao passivo e capital próprio então tem-se uma necessidade de financiamento externo que terá de vir a ser suprida com mais capital alheio ou com aumento de capital social.

Pelo seu excesso de simplificação este método parte de pressupostos que se tornam pouco realistas.

Concomitantemente, subsiste um modelo expedito mas mais realista que pode designar-se por “Método expedito do fluxo de caixa” e que também aparece na literatura das finanças de empresa (Brealey e Myers, 2000). Talvez mais razoável quanto aos pressupostos de evolução é aquele que procura estimar as necessidades de financiamento previsional a partir de um modelo simplificado de fluxos de caixa.

Contudo, apesar de mais fiável, as mesmas críticas poder-se-ão fazer quanto à sua ausência de rigor, embora mitigadas, quando comparado ao método de percentagem das vendas.

 

3. B) MÉTODO DIRECTO

Neste método as demonstrações financeiras são reproduzidas a um nível detalhado, suficiente para tratar cada rubrica de forma como se prevê/espera que seja a sua evolução.

A projecção do volume de negócios é sempre uma base fundamental do planeamento financeiro. Identificam-se todas as rubricas que poderão variar de forma percentual com as vendas e estima-se a evolução de cada uma das outras rubricas que têm um comportamento distinto. Todas as rubricas depois de projectadas são levadas de forma directa aos documentos financeiros previsionais: balanço, demonstração de resultados e dos fluxos de caixa. Este método é muitas vezes usado pela direcção financeira na gestão dos recursos financeiros bem como para apresentação ao exterior, nomeadamente, nos processos de obtenção de empréstimos. Este também é o método usado nos processos de avaliação de empresas;

No método directo de planeamento financeiro, por comparação com o método de consolidação orçamental, simplifica-se toda a fase de estimativa dos proveitos e custos e custos operacionais através rácios e pressupostos de evolução das despesas. Com base nessa informação seguem-se as seguintes fases:

·  Projecção das demonstrações financeiras pró-forma: resultados, balanço e fluxo de caixa;

·  Analise das necessidades financeiras e escolha das formas de financiamento mais adequadas;

·  Elaboração das demonstrações financeiras previsionais

 

A projecção das demonstrações financeiras pró-forma pode fazer-se da seguinte forma:

 

·  Previsão do volume de negócios – esta constitui uma das fases determinantes de um bom plano financeiro, pois muitas das outras previsões estarão com ela relacionadas. Os métodos de previsão do volume de negócios podem ser de diversa natureza desde os modelos baseados na mera observação das taxas de crescimento históricas e explicitação de expectativas de evolução até aos modelos baseados em técnicas estatísticas como a análise de tendência, análise de regressão simples e múltipla e análise de séries cronológicas que consistem em identificar as suas quatro componentes, nomeadamente, a tendência, a ciclicidade, a sazonalidade e a aleatoriadade.

 

·  Projecção dos custos variáveis como os custos variáveis são função do volume de negócios há que definir qual a tendência de evolução dessa relação, desde a manutenção da relação histórica até à reflexão das expectativas de introdução de eficiências operativas por cada uma das naturezas de custos. Entre estes custos destacam-se os custos das mercadorias e consumidas e diversas naturezas de fornecimentos e serviços externos;

 

·  Projecção dos custos fixos – por natureza estes custos são fixos e, por isso não têm uma relação proporcional com o volume de negócios. Há que reflectir sobre a expectativa da sua evolução face às necessidades de organização e desenvolvimento da empresa. Neste grupo de despesas estão uma parte importante das despesas com pessoal e muitas das rubricas de fornecimentos e serviços externos. Outro tipo de custo a considerar são as amortizações do exercício que são função dos activos fixos e das respectivas taxas de amortização.

 

·  Estimativa do investimento – esta estimativa deve ter em consideração o activo fixo necessário para suportar a evolução prevista para o volume de negócios. Colocam-se aqui aspectos relacionados com a capacidade produtividade e com as melhorias da qualidade, bem como, com a protecção do ambiente e condições de trabalho. Em métodos de planeamento mais simplificados assume-se a evolução do activo fixo líquido em termos de objectivos para o rácio de rotação do activo fixo;

 

·  Estimativa das necessidades em fundo de maneio – esta estimativa tem por base a evolução do volume de negócios e as condições de funcionamento da empresa e da própria concorrência. Esta fase leva o analista a identificar no balanço as rubricas que variam em percentagem do volume de negócios. Entre estas estão os activos cíclicos (e.g. existências, clientes e outros devedores de exploração) e os passivos cíclicos (e.g. fornecedores, estado de exploração e outros credores de exploração). O analista deve tomar em consideração a evolução histórica do ciclo financeiro de exploração e a expectativa futura de evolução;

 

·  Estima de evolução de outras rubricas do balanço - As outras rubrica do balanço não directamente relacionadas com as volume de negócios, como seja o capital social, os empréstimos bancários, os empréstimos de accionistas, etc., são introduzidos de acordo com a expectativa da sua evolução, nomeadamente, do plano de reembolso da dívida, do plano de aumento de capital, etc.

 

Todos os passos acabados de identificar são fundamentais para a elaboração das demonstrações financeiras pró-forma.

 

Uma vez feitas estas projecções financeiras, o analista está em condições de elaborar os documentos financeiros pró-forma (1ª aproximação) e identificar as necessidades de financiamento previsionais para a empresa.

As necessidades de financiamento previsionais podem ser analisadas no balanço pró-forma ou no mapa de fluxos de caixa pró-forma:

 

·  No balanço pró-forma – O somatório dos activos projectados menos o total da projecção dos passivos identifica as necessidades acumuladas de financiamento previsional;

 

·  Nos fluxos de caixa pró-forma – A diferença entre os recebimentos e pagamentos identifica as necessidades anuais de financiamento previsionais, sendo essencial o domínio da interligação entre as rubricas das demonstrações financeiras previsionais.

 

3.C) MÉTODO DE CONSOLIDAÇÃO ORÇAMENTAL

Este método recorre ao processo orçamental da empresa, consolidando os orçamentos que foram produzidos para cada uma das áreas da empresa. Baseia-se, por isso, no processo orçamental da empresa e deverá ter a participação dos principais responsáveis da empresa.

O processo orçamental da empresa deve ser descentralizado pelos principais responsáveis que irão orçamentar a sua área de responsabilidade. O planeamento financeiro, neste caso, irá proceder à consolidação de todos os orçamentos da empresa.

 

Neste método de planeamento financeiro, os orçamentos subdividem-se em três tipos:

·  orçamentos operacionais que se relacionam com as decisões operacionais

como sejam comerciais ou de produção;

·  orçamentos de investimento onde se reflectem as previsões de investimento;

·  orçamentos financeiros que produzem a síntese dos orçamentos operacionais.

 

Como exemplo de orçamentos operacionais pode listar-se os seguintes:

 

·  Plano e orçamento de volume de negócios;

·  Plano e orçamento de produção;

·  Plano e orçamento de aprovisionamento;

·  Plano e orçamento de custos com pessoal pelas diversas áreas da empresa –

produção, comercial, administrativa e financeira;

·  Plano e orçamento das despesas de produção;

·  Plano e orçamento das despesas comerciais e de distribuição;

·  Plano e orçamento das despesas administrativas gerais;

·  A demonstração de resultados pró-forma – significa a demonstração de

resultados ainda sem os custos financeiros.

 

Os planos de investimento identificam as necessidades da empresa por diversas áreas da empresa e os orçamentos de investimento reflectem as previsões de despesas com esta rubrica. A partir destes orçamentos estimam-se as respectivas amortizações.

Os orçamentos financeiros incluem:

·  A demonstração de resultados líquidos previsional;

·  Os balanços previsionais;

·  A demonstração de fluxos de caixa (tesouraria) previsional

 

 

Em síntese, o método de consolidação dos orçamentos acaba por se reduzir aos

seguintes passos:

 

·  Plano do volume de negócios e consequente previsão financeira;

·  Previsão do volume de produção e respectivos custos de produção;

·  Previsão das outras naturezas de custos:

·  Consolidação das informações orçamentais nas demonstrações financeiras

pró-forma: resultados, balanço e fluxo de caixa;

·  Analise das necessidades financeiras e escolha das formas de financiamento

mais adequadas;

·  Elaboração das demonstrações financeiras previsionais.

 

 

Para efeitos de planeamento e controlo da gestão da empresa a administração da empresa deve levar os principais responsáveis da empresa a participar na elaboração do plano, discutindo e definindo com eles os objectivos, as estratégias e as políticas de gestão para que estes possam elaborar planos de recursos coerentes com os objectivos globais da empresa e se mantenham empenhados no alcance dos mesmos.

Para efeitos de planeamento financeiro pode aproveitar-se esta informação. Mas também é certo que muitas empresas não têm um processo de planeamento tão rigoroso e, muitas vezes são precisos planos urgentes para apresentação ao exterior, como sejam bancos, parceiros estratégicos, etc. Assim, os gestores e analistas financeiros recorrem com frequência ao método directo de planeamento financeiro, já previamente abordado no ponto 3.B.

 

 

4. CONCLUSÂO

Os planos de negócios têm por base os objectivos estratégicos da empresa e da sua posição e competitividade. Com base no diagnóstico e na perspectiva de desenvolvimento da empresa estabelecem-se uma panóplia de políticas de gestão.

Muitas destas políticas são definidas por áreas funcionais como a área comercial e de marketing, produção e logística, pessoal, investimentos, financiamento, etc. Os objectivos e as políticas de gestão irão integrar o conjunto de pressupostos do plano financeiro, fundamentais para a elaboração das previsões financeiras e/ou orçamentos.

Produzem-se então os orçamentos e os documentos financeiros previsionais. Uma vez produzidas as demonstrações financeiras previsionais deve proceder-se à sua análise e verificação da conformidade com os objectivos inicialmente enunciados

O planeamento financeiro segue um processo repetitivo até que se alcancem os padrões considerados satisfatórios, tendo em consideração as restrições existentes.

 

Desta forma, o planeamento financeiro visa determinar as necessidades de financiamento previsionais, bem como, estudar as formas mais adequadas de financiamento no futuro, sendo possível alcançar-se este objectivo de três modos distintos, designadamente:

 

                        A) Método Expedito

                        B) Método Directo

                        C) Método de Consolidação Orçamental

 


(Hugo Telinhos Braga)
 

 

BIBLIOGRAFIA:

- Código de IRC

- Constituição da República Portuguesa

Planeamento Financeiro